12 de jun. de 2009

Hamlet

ATO I – CENA 2

Se esta sólida carne pudesse ser derretida, evaporada e dissolvida num orvalho!
Ou se o Eterno não tivesse fixado suas leis anti-suicidas.
Ó Deus!
Como me parecem abjetos, antiquados, vãos e inúteis todos os usos deste mundo!
Ah! Abjeção! É um jardim onde tudo cresce à vontade, produtos de natureza grosseira e amarga unicamente!
Chegar a isto.
Nem há dois meses morreu. Um rei tão excelente, mais diferente deste que Hipérion de um sátiro! Tão afetuoso para minha mãe não permitindo às auras celestes roçarem o rosto dela tão violentamente! Céu e terra! Preciso recordar? Agarrada a ele como se o apetite dele aumentasse à medida que se satisfaz, e só há um mês.
Não quero pensar? Fragilidade, teu nome é mulher!

ATO III – CENA 1

Ser ou não ser eis a questão!
Que é mais nobre para o espírito?
Sofrer os dardos e setas de um ultrajante fardo ou tomar armas contra um mar de calamidades e resistindo pôr-lhes fim?
Morrer... dormir...
E, com o sono, dizem, terminamos o pesar do coração e os conflitos, herança da carne.
Que fim poderia ser mais devotamente desejado?
Morrer... dormir...
Dormir, talvez sonhar.
Sim, eis a dificuldade.
Por que no sono da morte que sonhos podem sobrevir quando nos tivermos libertado do torvelinho da vida?
Aí está a reflexão que torna uma calamidade a vida assim tão longa!
Por que quem suportaria os ultrajes e desdéns do tempo, a injúria do opressor a afronta do soberbo, as angústias do amor desprezado, a morosidade da lei e as humilhações que o paciente mérito recebe do homem indigno quando ele pudesse encontrar quietude com um simples estilete?
Quem suportaria tão duras cargas gemendo ou suando sob o peso de uma vida afanosa se não fosse o temor de algo depois da morte, região misteriosa de onde nenhum viajante jamais voltou confundindo nossa vontade e impedindo-nos de suportar aqueles males que nos afligem em vez de nos atirarmos a outros que desconhecemos?
E é assim que a consciência nos transforma em covardes e é assim que o primitivo verdor de nossas resoluções se estiola na pálida sombra do pensamento e as empresas de maior alento e importância no momento com tais reflexões, desviam seu curso e deixam de ter o nome de ação.

ATO V – CENA 1 (BUFÃO YORICK)
Que fizeram de teus sarcasmos, de tuas canções, de teus rasgos de bom humor que faziam a mesa gargalhar? E agora, nenhuma graça? Vai agora ao toucador de minha senhora e dize-lhe que, embora coloque a mais espessa camada de tinta nada impedirá que vem há ela para aqui. Faze-a rir com isto.

ATO V – CENA 2
O resto é silêncio.

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