12 de jun. de 2009

Mario Quintana (Frases)

• Nos dias de nevoeiro os fantasmas aproveitam para passear incógnitos pelas ruas.

• Todas as noites os grilos passam fritando não se sabe que coisa. Chega a madrugada, destampa o panelão: a coisa esfria.

• Tão bom morrer de amor e continuar vivendo.

• Os adjetivos em geral são por demais explicativos. Feliz de quem vive ainda no mundo dos substantivos.

• As guerras não solucionam os males decorrentes do excesso de população do mundo, como julgam alguns. Pois os que vão para a chacina são hoje em dia os mais sadios de físico e de espírito. Imagine o leitor as consequências desta multiplicação de incapazes por detrás das bombas.

• Seus olhos grandes, redondos e pretos tempos ainda ficavam pregados na gente como botões.

• Cuidado! As esfinges alimentam-se exclusivamente de miolos.

• A gente deve atravessar a vida como quem está gazeando a escola e não como quem vai para a escola.

• A gente adoece, mesmo, é de nome feio recolhido.

• O que me impressiona à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser o nosso futuro.

• Minha vida é uma colcha de retalhos, todos da mesma cor.

• O que salva nossa triste condição de Homo sapiens é que não se pode ter certeza nem da própria dúvida.

• São muitos os que morrem antes, outros depois. O difícil é morrer na hora.

• Uma, a Rainha do Céu.
Outra a Rainha das Águas.
Nas águas mansas do rio
Vão levando as nossas mágoas.

• O crítico é um camarada que contorna uma tapeçaria e vai olhá-la pelo avesso.

• Os verdadeiros crimes passionais são os sonetos de amor.

• O Destino é o acaso atacado de mania de grandeza.

• O que tem de bom numa galinha assada é que ela não cacareja.

• Os anjos deslizam em invisíveis escadas rolantes; os diabos, em bicicletas invisíveis.

• - O senhor acredita em Deus?
- O que é mais importante é saber se Deus acredita em mim.

• Não gosto das casas modernas porque as casas modernas não têm porões nem sótãos: onde é que vou abrigar os meus fantasmas?

• Autodidata: ignorante por conta própria.

• Tribunal do Júri: local onde os senhores jurados decidem, entre dois litigantes, qual o que tem o melhor advogado.

• Anjo: ser celestial metediço na vida terrena, uma espécie de Relações Públicas de Nosso Senhor.

• Picasso: famoso precursor da talidomida.

• Uma das coisas que não consigo compreender são os que se convertem a outras
religiões. Para que mudar de dúvidas?

• Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.

• A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que compromissos, as obrigações estejam logo ali. Chegamos de muito longe, de alma aberta e coração cantando!

• O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

• Entre a minha casa e a tua há uma ponte de suspiros.

• O único esporte que pratico é a luta livre com o meu Anjo da Guarda.

• O azul-celeste só se assenta bem no céu e o cor-de-rosa na rosa: uma feijoada azul-celeste seria intragável.

• O que desconcerta ao andar pela cidade: ela tão cheia de edifícios e a nossa alma cheia de terrenos baldios.

• Uma carta íntima escrita a máquina é como um beijo dado de máscara.

• Antigamente os ruídos interrompiam o silêncio. Agora, o de que a gente mais precisa é de silêncios que interrompam os ruídos.

• Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança, seja ela de um ou de 80 anos de idade.

• O mais irritante de nos transformarem um dia em estátuas é que a gente não pode se coçar.

• Sonhar é acordar-se para dentro.

• Os fantasmas também sofrem de visões: somos nós.

• Enforcar-se é levar muito a sério o nó na garganta.

• Reflexão de Lavoisier, ao descobrir que lhe haviam batido a carteira: “Nada se perde, tudo muda de dono”.

• A noite acendeu as estrelas porque teve medo da própria escuridão.

• Há duas espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os amigos que são os nossos chatos prediletos.

• Dia da Amizade: quando o silêncio a dois não se torna incômodo.

• Às vezes o longo túnel do sonho é iluminado apenas pelos olhos verdes dos fantasmas.

• O estilo muito ornamentado lembra esses altares que tinham tantos anjinhos que a gente mal conseguia enxergar o santo.

• Esses poetas que põem data nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam, no ato, os próprios ovos.

• Tem qualquer coisa de anjo esses suicidas voadores. Qualquer coisa de anjo que perdeu as asas.

• Essas horrendas coroas de biscuit que dizem “descansa em paz”. Como descansar em paz com uma coisa dessas?

• Existem anjos boêmios, que costumam freqüentar esses antros noturnos que são os sonhos dos homens. Unicamente esses anjos é que intercedem por nós, um dia. Os outros são dedos-duros.

• Falamos nas “lágrimas de crocodilo”. Isso não é nada: o pior são os sorrisos de crocodilo.

• O futuro é uma espécie de banco ao qual vamos remetendo, um a um, os cheques das nossas esperanças. Ora, não é possível que todos os cheques sejam sem fundos.

• Conto de horror: e um dia os homens descobriram que esses discos voadores estavam apenas observando a vida dos insetos.

• O despertador é um acidente de tráfego do sono.

• Não deves acreditar nas respostas. As respostas são muitas e a tua pergunta é única e insubstituível.

• Canibalismo: maneira exagerada de apreciar o seu semelhante.

• Meditação: vício solitário.

• Otimismo: filosofia forçada.

• Tenho pavor das recordações: dão-me saudades de mim.

• Antes, se alguém começava a ouvir vozes, era adorado como santo ou queimado como bruxo. Agora é simplesmente encaminhado ao psiquiatra.

• Cá entre nós: choro de criança me provoca o complexo de Herodes.

• “Amai-vos uns aos outros” é muito forte para nós: o que podemos fazer dentro da imperfeição humana, é suportarmo-nos uns aos outros.

• Morrer é quando a gente pode finalmente ficar deitado de sapatos.

• Nós vivemos a temer o futuro; mas é o passado quem nos atropeLa e mata.

• Fim de ano: “enterro festivo”.

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