13 de jun. de 2009

Sonetilho do acamado

Bernardino da Costa Lopes

Este genial carioca, natural do Arraial da Boa Esperança em Rio Bonito-RJ, negro, nascido antes do fim da escravidão (1859-1916), foi filho de pais livres e um dos primeiros poetas parnasianos e simbolistas brasileiros. Retratou cenas cotidianas, de claro rigor estético, mas, aparentemente, singelo e brando. B. Lopes é, hoje, um poeta esquecido pela massa nacional. (Fredson N. Aguiar).

SONETILHO DO ACAMADO

Na alcova sombria e quente
Pobre demais, se não erro,
Repousa um moço doente
Sobre uma cama de ferro.

Pede-lhe baixo inclinada,
Sua mulher, que adormeça,
Em cuja perna curvada
Ele reclina a cabeça.

Vem uma loura figura
Com a colher da tintura,
Que ele recusa, num ai!
Mas o solícito anjinho
Diz-lhe com riso e carinho:
- Bebe que é doce, papai!

2 comentários: