12 de dez. de 2011

Narciso

Maria Tagarela

Abro a janela. Trago a fumaça.
Sinto esse mal cheiro, mas mesmo assim me contento.
Saio caminhando pelas ruas,
me misturo com a multidão.
Sou mais um que caminha.

Às vezes invejo os mortos.
Às vezes penso que devo ressuscitar.
Observo você a passos lento,
caminhando pelas mesmas ruas
com um ar sóbrio
como se nunca ficasse bêbado.
Homem de decisões, de ferro, de bases sólidas
É necessário que se encontre.
É necessário que perceba sua presença
tão marcante para mim
e que às vezes não se dá conta.
É necessário que se dispa diante de si mesmo.
É necessário que se arrisque.

Não acredito nas impossibilidades.
Acredito nessa força inconsciente
que habita os lugares mais escuros.

Homem de meditações, de conflitos, de angústias.
É possível que entenda o que acontece à sua volta.
Mal sabe que essas pegadas na areia são as suas
Mal sabe que essa areia é a minha.
A mesma água em que se banha me afoga.

Homem de correntes e nós.
É necessário que se desate.
É necessário que se perca
para que eu possa te encontrar.
É necessário mostrar-se nu
para que eu possa vê-lo de verdade.
É necessário que se faça necessário.
É necessário que se perceba.

Homem de gestos e gritos.
É necessário que grite
para que eu o escute melhor.
É necessário que esteja vivo
para que eu possa viver.

(1982)

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